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CAIXA VERDE

EDITORIAL

O ano de 2022, que agora chega ao fim, foi particularmente atribulado. Quando se poderia pensar que a pandemia estava finalmente controlada, se não mesmo debelada, o estalar da guerra na Ucrânia veio acentuar, com renovado vigor, as fragilidades que já começavam a rasgar o tecido económico e social em 2020 e 2021. Sem dar tempo para recuperar dos meses de isolamento, das ruturas de vários segmentos de mercado que tanto comprometeram as atividades produtivas e profissionais, a guerra veio trazer novas ameaças à estabilidade do presente e à confiança no futuro.

A situação afeta todos, mas, na Associação D. Pedro V, estamos especialmente preocupados com as crianças e os jovens. No que a estes diz respeito, temos procurado ir ao encontro das carências mais prementes, socorrendo o possível no imediato, mas apostando também numa estratégia de médio e longo prazo que assenta na qualificação.

Clara Ferreira Alves comentava, no Expresso do passado dia 9 de dezembro: “Um país que exporta os melhores, os mais jovens, os mais aptos, os mais qualificados, os mais trabalhadores, um país que exporta os jovens que educou com os impostos dos portugueses, é um país falhado. Um país que trai aquilo que a propaganda política chama, e nem por ironia, a geração mais qualificada de sempre, é um país sem futuro. E que não está preparado para ajudar ou tomar conta dos que não chegam lá, os que ficam pelo caminho, e os que não conseguirão ultrapassar a destituição da classe ou a desvantagem.”

No Livro Branco “Mais e Melhores Empregos para os Jovens”, 2022, podem ler-se as seguintes palavras, logo na abertura do “sumário executivo”: “Nos últimos anos, o emprego jovem tem sido objeto de uma atenção especial em Portugal e na União Europeia. Fortes investimentos na qualificação da população portuguesa ao longo das últimas décadas resultaram em avanços notáveis nos níveis de escolaridade e competências das novas gerações de trabalhadores. Contudo, o emprego dos jovens continua a ser de baixa qualidade e particularmente afetado pelas crises económicas. Desde 2015, o desemprego jovem é mais de 2,5 vezes superior ao desemprego total. A crise pandémica agravou a situação, levando ao aumento deste rácio para 3,5. Encontram especiais dificuldades os jovens com menos de 25 anos, em idade de transição para o mercado de trabalho, incluindo os mais instruídos.”

Queremos contribuir para inverter a tendência que leva os jovens a abandonar Portugal. Contribuir para a sua qualificação profissional não será reforçar os instrumentos de insatisfação com as condições de trabalho que atualmente existem, mas desejavelmente disponibilizar, aos menos abastados, o acesso a formações em que possam realizar o seu potencial. Será preciso fazer grandes mudanças estruturais, no plano económico e no alinhamento de estratégias “entre políticas públicas, de emprego, inovação, industriais e fiscais”, como refere o Livro Branco. Para tanto, será preciso também que as pessoas e as instituições estejam atentas e disponíveis para colaborar na produção das mudanças necessárias. A Associação D. Pedro V convida todos a tomar parte num diálogo que contribua para encontrarmos os melhores caminhos para agirmos com eficácia na formação dos jovens e na construção do seu futuro. Citando o Papa Francisco: a educação "é sempre um ato de esperança que nos convida a participar e transformar a lógica estéril e paralisante da indiferença numa lógica capaz de acolher nossa pertença comum".

Lisboa, dezembro de 2022